domingo, 2 de outubro de 2011

Ó, homens da minha terra...


Recordo-me de ter lido, aqui há uns anos, uma notícia que dava conta de uma mulher que se tinha lançado ao mar, no porto de pesca da Póvoa, para salvar gente que ali tinha caído e que corria risco de afogamento nas águas invernosas.

Já não me recordo se os esforços dessa valente poveira foram coroados de êxito, mas quero crer que sim. Do que me lembro, com exactidão, foi do que ela disse aos envergonhados pescadores, poveiros como ela, que ali se encontravam e que tiveram medo de se lançar ao mar: “Onde estão os homens da minha terra?”.

Confesso que nos últimos tempos tenho feito a mim mesmo essa pergunta. Vejo, cada vez com maior frequência, os homens da minha terra entregues à bebedeira, à droga, ao vício, à inacção. Quem arca com tudo, claro, são elas. Inclusive com eles.

É verdade que todos, pelo menos os da minha idade, crescemos numa sociedade patriarcal, onde fazíamos pouco ou nada para além do trabalho que nos competia. Gradualmente, esse estado de (tristes) coisas foi-se transformando e os que tiveram vergonha na cara aprenderam pelo menos a aspirar o pó da sala, a fritar ovos com salsichas, a lavar a louça e a tomar conta dos fedelhos. Pelo menos de vez em quando. Quanto mais não fosse para disfarçar uma desfaçatez herdada da noite dos tempos.

Claro que todos sabíamos que fazíamos de conta que mandávamos nelas, embora ninguém ignorasse que eram elas que, de facto, mandavam lá em casa. Mandavam caladas, é certo, mas mandavam. E se entrassem em greve (Deus nos livre...) seria uma desgraça e um caos pior do que o fim dos tempos.

Aos homens competia uma coisa simples – ser homem. Fosse lá o que fosse que isso significava. Talvez não ser nem demasiado feio, nem demasiado estúpido, ter o seu quê de simpático, levar dinheiro para casa e ser, digamos, fisicamente saudável. A coisa era simples e funcionava.

Hoje, os homens da minha terra são feios, estúpidos, abrutalhados, preguiçosos e, em muitos casos, desconhecem as mais elementares artes de marinharia e confundem mesmo a proa com a ré. Sinceramente começo a ficar preocupado com este estado de coisas. Até quando é que elas nos irão aturar?...

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