quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O elo mais fraco


De uma forma ou de outra, todos já nos entregámos ao exercício de dizer que animal seríamos caso pudéssemos escolher. No que me toca, no mar sempre me tentaram os golfinhos, em terra os cães e no ar os falcões. Todos, de uma ou outra maneira, ligados aos humanos. Ou talvez seja porque não têm as vistas curtas. Não sei.

A verdade é que sempre antipatizei com aqueles bicharocos que vêem mal, que confundem o cinzento com outras cores e que não conseguem distinguir para além do óbvio. Um pouco assim como aqueles rapazinhos geniais, chegados do Canadá e de Bruxelas com toda as certezas e mais uma na bagagem.

Refastelados nos cadeirões do poder, sacaram de toda a sapiência universitária para fazerem continhas de merceeiro – ora temos que pagar tanto... hummm... hummm... corta aqui, corta ali, imposto acolá... já está! Receitas zero.

São de facto notáveis estes rapazinhos que o Passos Coelho tirou da cartola. Conseguem mesmo imaginar receitas impossíveis, incapazes de pensar um segundo que seja para chegarem à conclusão que o povo vai fugir de scuts portajadas e, pior, os estrangeiros deixarão de vir porque não estão para pagar as exorbitâncias que lhes são exigidas para circularem nas nossas estradas.

Exemplo número um: a rapaziada de Sócrates decide portajar a A28. Resultado – no curto espaço de um ano 100 mil galegos optaram por desistir de viagens ao Norte do país. Se cada um gastar na estadia, em média, digamos que uns míseros 100 euros, foram 10 milhões que foram ao ar. Em 10 anos perder-se-ão pelo menos 100 milhões. Brilhante, sem dúvida.

E o que irá suceder na A22? Quantos estrangeiros deixarão de cá vir? E a publicidade negativa? Iremos perder o quê? Digamos 300 mil turistas por ano? A uma média de 300 euros por cabeça? É que é bom que não esqueçamos que estamos a falar do Algarve, com uma estadia média de pelo menos uma semana... Isso dá quanto? Uma perda de 90 milhões de euros anual? Ou seja, 900 milhões em 10 anos? Mais o desemprego que vai acarretar? Sim senhor, cabecinhas brilhantes...

E que dizer da extraordinária medida de acabar com os contratos dos professores de Português que estão a leccionar lá fora? Cerca de 40 foram despedidos por telefone. Boa... E poupou-se quanto? Um milhão por ano? Vá lá, 1,5 milhões... esqueceram-se foi de dois pormenores importantes, para já não dizer dois pormaiores: é que atentaram contra a língua-mãe e provocaram um movimento de protesto por parte dos emigrantes, que ameaçam vetar 2,4 mil milhões em remessas.

Já para não falar das espantosas receitas que ambicionavam arrecadar com a subida do IVA. Acontece, porém, que o povinho é lerdo mas não é estúpido de todo. Já pensaram na quantidade de TPA's que foram desligadas desde que implementaram tão brilhante medida? E agora vão cobrar o quê?...

Senhores Vítor Gaspar e Álvaro Pereira, os caríssimos doutores podem ser muito bons a dar aulas a meninos, mas de coisas sérias os senhores não percebem nada. Doutores, vocês são o elo mais fraco. Adeus.