sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A César o que é de César...


“Há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho, que nem se governa nem se deixa governar” - Júlio César, século I antes de Cristo.

Quanto mais conheço da História de Portugal, menos me dá vontade de conhecer. Fui educado, como todos nós, a exultar com os extraordinários feitos dos nossos ancestrais, com as suas conquistas, obtidas a maior parte das vezes graças a intervenção divina, com a herança sem par que o nosso povo, enfim, legou à Humanidade, através dessa gloriosa gesta constituída pelos Descobrimentos, que deu novos mundos ao Mundo.

Acreditava, sinceramente, que tínhamos um papel fantástico na História. Uma noite, num qualquer hotel em Belgrado, descobri que não era exactamente assim. Estava ali, eu, um português qualquer, a falar com dois amigos, um italiano e outro holandês. Disse-lhes exactamente o que pensava dos seus países e pedi-lhes que, em troca, me dessem a sua opinião sobre o papel desempenhado pelos Portugueses ao longo dos tempos. Mostraram-se algo embaraçados e ambos afirmaram que preferiam não o fazer. Perante a minha insistência disseram, em uníssono, que não passávamos de ladrões e assassinos. Confesso que fiquei ofendido.

Hoje, passados quase vinte anos desse episódio, reconheço que os meus amigos tinham razão. Por aqui passou o rebotalho da Humanidade – Suevos, Vândalos, Berberes. Tudo gente boa. E os que vieram substituir não eram melhores: os Concheiros Ibéricos, que comiam os caranguejos que comiam o que eles obravam. A coisa continuou a correr mal com os Afonsinos Visigodos, que arrasaram uma civilização muito superior à nossa, a dos Árabes.

O glorioso episódio da conquista de Lisboa, onde residia uma vasta comunidade Sefardita, é sintomático – D. Afonso Henriques entregou durante três dias a cidade aos Cruzados que o tinham ajudado e as patifarias cometidas por estes foram tantas que ainda hoje constam do Livro de Orações dos Judeus. E a História continuou o seu curso, de roubo em roubo, de assassinato em assassinato, até ao dia em que D. João, dito o Mestre de Avis, teve a ideia de atacar Ceuta.

Com os Descobrimentos, os Portugueses descobriram que podiam roubar o Mundo. E assim fizeram, sem pressas. Primeiro a África, depois o Oriente, finalmente a América. Recordemos aqui, porque importa, um episódio passado no século XVI, quando D. Afonso Albuquerque, dito o nosso maior cabo-de-guerra e que aprendi cedo a glorificar, fez o que melhor sabia: reuniu a sua esquadra em meia-lua e mandou abrir fogo sobre uma cidade inocente, antes de perguntar primeiro o que quer que fosse. A táctica era essa: disparar primeiro e perguntar depois.

Acontece que os capitães da esquadra, fartos de sucessivos massacres e porque, em virtude da nossa superioridade militar, bastava a aparição das nossas bandeiras para que qualquer um se rendesse, largaram os seus botes e dirigiram-se à nau almirante, rogando a D. Afonso Albuquerque que talvez fosse melhor perguntar àquela gente se entregava a cidade. O vice-rei fez o que melhor sabia: cortou aos atrevidos os respectivos narizes e orelhas e, claro, mandou abrir fogo.

Poderíamos continuar por aí fora, como o massacre cometido também no início do século XVI contra os Judeus de Lisboa, quando em pleno reinado de D. Manuel, dito o Venturoso, num só dia foram sacrificadas cinco mil almas inocentes. Tudo em nome da santa paz da Igreja Católica. Disso não se fala nos livros de escola. Como também lá não vêm as centenas de milhar de escravos levados de África para o Brasil, onde foram tratados como nós não tratamos o cão mais sarnoso.

E nem seria bom falar do que fizeram os Bandeirantes, responsáveis pelo massacre, roubo e violação de milhares de índios, cujo único crime consistia em viver numa terra que era sua. Ou dos milhares de inocentes purificados no fogo da sagrada Inquisição. Mas depois vieram dias gloriosos com a Guerra Peninsular. Ou pelo menos fizeram-nos crer que sim. Que expulsámos os Franceses sozinhos, quando na verdade a única coisa que as nossas tropas fizeram - na Roliça, no Vimeiro e no Buçaco - foi fugir ao primeiro tiro para regressarem depois ao campo de batalha, derrotado o inimigo pelos Ingleses, para saquearem os mortos.

Pois é, a nossa História é só glória. Pilhagens e assassínios, desde os primórdios até à actualidade. Fugimos quando adivinhamos força no adversário e somos impiedosos no caso contrário, como ficou bem demonstrado nessa gesta extraordinária que foi a Guerra Colonial. Perdida esta, limpámos o sangue das facas, guardámo-las para melhores dias e dedicámo-nos ao que melhor sabemos fazer - roubar. Olhámos para o lado e descobrimos um novo Brasil: Bruxelas, de onde surrupiámos rios de dinheiro a uns incautos que o entregavam de mão beijada, acreditando que íamos fazer alguma coisa pelo nosso País.

Quando deixaram de acreditar, os ladrões tiveram de descobrir um novo filão. Sem África, sem o Oriente, sem o Brasil, sem Bruxelas, restava-lhes roubar os próprios Portugueses. E assim fizeram, e fazem, com a maior desfaçatez e impunidade. E vieram os Freeport's, os BPN's, os BCP's, as SLN's e sabe-se lá mais o quê. Um dia, o País acordou e percebeu que estava na miséria. Importava fazer o impossível, para nos salvar da bancarrota. Foram impostas medidas que pediam mais e mais sacrifícios a um Povo com fome.

Já se sabe que ladrões não há só cá. Percebendo a debilidade do País, as aves de rapina lá de fora lançaram-se sobre nós como gato a bofe, procurando descortinar um pedaço de carne onde só havia ossos. A salvação possível residia no que parecia impossível - que nos governássemos. Que tivéssemos estabilidade e fôssemos responsáveis. Com o País a um passo do abismo, surgiram então os herdeiros naturais dos Berberes, quais ratos do deserto, a dizer que estava tudo mal e queriam um novo Governo. Golpe mortal. Política de terra queimada levada a cabo por irresponsáveis da Esquerda caviar que deveriam responder na Justiça pelos seus actos e pelas consequências que a sua miserável política acarretará para os Portugueses.

Já não tenho ilusões. Portugal é, sempre foi, um equívoco. Um país que nunca deveria ter existido. César, do alto da sua sagacidade e perspicácia política, aprendeu-o dois mil anos antes de mim...