segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O rei das baratas


Sabe-se que, um dia, o Armagedão vai chegar. Não se trata de “se”, mas “quando”. Em forma de cometa, asteróide, raios gama, ventos solares, supervulcões ou qualquer catástrofe do género. Quando chegar (quanto mais tarde melhor...), sabemos igualmente que poucos animais irão resistir. Os ratos talvez, as baratas com toda a certeza, pois aguentam tudo, podendo inclusive sobreviver sem cabeça.

A barata é um bicho odioso. Pelo menos para mim. Sempre achei o seu aspecto repelente, o rastejar daquelas patinhas um nojo, e até quando as esmago não posso evitar um ar de enjoo com aquela porcaria viscosa colada à sola dos sapatos. Como se não bastasse, tem um atrevimento sem igual, infilitrando-se em tudo que é café, à espera de surripiarem as nossas tostas mistas e o nosso espaço. Não há insecticida que nos valha. As baratas são nojentas, mas a verdade é que sobrevivem a tudo.

No mundo das baratas vivem também os Portugueses. Por cá, 2010 teve pelo menos uma virtude – não temos de temer o Armagedão, pois já estamos a viver o dia seguinte: a dívida disparou, o desemprego subiu em flecha, o Sistema Nacional de Saúde está moribundo, com certidão de óbito passada, a Educação está uma completa bandalheira, fruto dessa enorme fraude que são as Novas Oportunidades, os salários, já de si magros, sofreram uma machadada, e, qual cereja em cima do bolo, estamos de pernas abertas face aos chineses, governados pela democracia que todos sabemos.

Em suma, os Portugueses morreram? Muitos já, restam uns quantos moribundos, que jazem, exangues, mesmo sem forças para estrebuchar. Mas há a tal barata, neste caso o rei das baratas: o Magnífico Senhor Engenheiro, capaz de sobreviver a tudo e qualquer coisa. Passa incólume por freeports, sucatas, guantanamos e quejandos. E com ele as suas baratinhas, de punho erguido, tão nojentas como ele. Meus amigos, Portugal, depois do Armagedão, está entregue à bicharada. Resta-nos esperar que, em 2011, alguém invente um Sheltox capaz de exterminar esta nojice.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Grande hipócrita!


Primeiro que tudo entendamo-nos – nunca morri de amores por Cavaco Silva. Não é simpático, tão-pouco carismático e as suas teses liberalistas irritam-me. O que não me impede de reconhecer que o tenho como um homem sério e alguém sinceramente preocupado com o seu país.

Vem tudo isto a propósito de alguém que dá pelo nome de Manuel Alegre, que veio a terreiro proclamar alto e bom som que nunca deu o seu nome à PIDE a atestar o seu bom comportamento. Queria ele insinuar as porventura estreitas ligações de Cavaco à polícia política salazarista.

Pois não, Manuel Alegre. De facto não deu. É que enquanto Cavaco Silva cumpria o dever para com a Pátria, arriscando a vida na guerra colonial enquanto oficial miliciano, o senhor andava em Argel, como bom desertor que era, a apelar à morte dos nossos soldados que combatiam em África. Percebeu a diferença ou quer que volte a explicar?...

Diz ainda o senhor, Manuel Alegre, insigne poeta da esquerda caviar, que vai defender com unhas e dentes o Estado social. Qual? O principal responsável pela situação deste país? Vai defender o quê? A continuação da atribuição de subsídios a quem nada faz?...

Ou, senhor Manuel Alegre, vai continuar a defender a política laboral deste país? A mesma que afasta todos os investidores porque, em Portugal, direitos só têm os assalariados, porque aos patrões só compete pagar.

Senhor Manuel Alegre, eu, e muitos como eu, estamos fartos de canalhas como o senhor. Tenha vergonha na cara. Vá defender as suas teorias para a Coreia do Norte, para a China, ou, se gostar de calorzinho, vá para Cuba ter com o amigo Fidel. Faça-nos um favor – não atrapalhe. Deixe os Portugueses trabalhar para voltar a arranjar aquilo que vocês estragaram.

Ou então seja homenzinho e leve à prática aquilo que apregoa - prescinda de uma pequena parcela das suas múltiplas (e gordas...) reformas e distribua esse dinheiro pelos parasitas que diz defender.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sonho de uma noite de Verão


Vivo num País fantástico. No melhor País do Mundo. Chama-se Portugal e tem uma História fabulosa. Povo de mercadores e de comerciantes, Portugal arrecadou uma riqueza sem par. Primeiro na Índia, depois no Brasil e finalmente em África. Somos o País mais desenvolvido do Mundo. A seguir vem a Noruega, mas a grande distância.

Fazemos parte da União Europeia, onde ombreamos com países com uma dimensão geográfica e demográfica superiores, casos da Alemanha, da França, do Reino Unido, de Itália e dos nossos vizinhos espanhóis. Somos uma espécie de cofre-forte da Europa, um pouco à semelhança da Suíça, embora esta seja uma imagem pálida, pois aqui há muito mais reservas de ouro e monetárias.

Temos o melhor sistema de Saúde e de Educação do Mundo, a nossa Justiça é referenciada em todo o Mundo e as nossas Forças Armadas estão equipadas com o melhor que há. O índice de desemprego é de 4%, o que significa que só não trabalha quem não quer, mas mesmos estes têm direito a um salário do Estado para levar uma vida digna.

A reforma dos Portugueses é aos 55 anos. Em princípio não há casas particulares – são todas do Estado, que as cede mediante o pagamento de uma renda e que transitam para o arrendatário ao fim de 25 anos. O salário mínimo é de dois mil euros e a taxa de inflação é de 0%.

Todo este bem-estar é fruto de gerações de trabalho sério da classe política, que aliás é paga para fazer isso mesmo – gerir bem o dinheiro do contribuinte. São raríssimos os casos de corrupção e, quando detectados, são punidos de forma exemplar. Por isso é que o País funciona tão bem.

Bom, depois acordei. E percebi. Tinha sido um sonho e nem sequer era Verão. Estava mesmo um frio do caraças. Fui à janela e vi as pessoas na rua, com medo da chuva e do vento. Encolhi os ombros e voltei à realidade. Portugal, um País de bananas governado por sacanas. D. Carlos dixit. E com toda a razão.