sábado, 17 de setembro de 2011

A Madeira é um jardim


O esbulho de metade do subsídio de Natal lançado pelo Governo para colmatar os sucessivos buracos orçamentais vai afectar, como é óbvio, milhões de portugueses, de forma directa ou indirecta. Essa medida permitirá arrecadar cerca de 800 milhões de euros. Trata-se de um enorme sacrifício pedido a todos para corrigir as asneiras de alguns, mas que dizer do que se passa na Madeira?

Fruto dos sucessivos disparates (que outro nome dar-lhe? Roubos?...) da governação de Alberto João Jardim, sabe-se agora - apenas e exclusivamente graças ao FMI e à troika - que há um buraco na Madeira da ordem dos 1113 milhões de euros. Quem vai pagar? Os pacóvios de sempre, como é evidente: os contribuintes.

Se arrecadar 800 milhões já vai doer aos portugueses (os tais “cubanos”...), que dizer dos 1113 milhões da Madeira? Ninguém diz nada? Ninguém faz nada? Mas como é isto possível? Está bem António José Seguro quando afirma que o PSD deve retirar, de imediato, a confiança política ao senhor Jardim.

Pelo contrário, está muito mal Pedro Passos Coelho quando se cala. Da mesma forma Cavaco Silva. Cada vez mais é perceptível que o presidente tem um gosto muito duvidoso para escolher os amigos - Dias Loureiro, Duarte Lima, João Jardim. Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és?...

Diz-se agora que, segundo a lei, Jardim pode incorrer numa multa de 25 mil euros. Ridículo! Mas ninguém prende este senhor, capaz dos maiores insultos e de incríveis tropelias? Portugal não passa, afinal, de uma qualquer república das bananas?...

Igual a si mesmo, Jardim esbraceja e argumenta que é tudo mentira, inventada por “um país decadente”. Mais: regressa às ameaças. Afirma que se “isto continuar” terá de “reflectir” e que será tempo de cada um seguir o seu caminho. Ou seja, ameaça com um separatismo que, se pôde ser perdoado em 1975, não o deve ser hoje.

A lei é clara. Reza o Código Penal, na sua vertente de traição à Pátria (artº 308º, alínea a): “Aquele que, por meio de usurpação ou abuso de funções de soberania, tentar separar da Mãe-Pátria (…) todo o território português ou parte dele (...) é punido com pena de prisão de dez a vinte anos”.

Eu acuso: Alberto João Jardim é um traidor à Pátria! E agora? De que está à espera o Ministério Público para levar este senhor a julgamento?...

sábado, 10 de setembro de 2011

Primavera de incerteza


Hosni Mubarak pode ser catalogado como ditador? Pode. E Ben Ali? Também. E Assad? Idem. E Kadhafi? Sem dúvida. Assim como muitos outros, de Marrocos à Arábia Saudita. É a Primavera Árabe digna de simpatia? Com certeza. Será motivo para, no Ocidente, batermos palmas? Duvido.

Duvido porque estamos a substituir o certo pelo duvidoso. Pessoalmente agradar-me-ia ver cair todos os ditadores, seja de que quadrante for – no Magreb, no Mashrek, na Ásia e na África Negra, com o senhor José Eduardo dos Santos à cabeça. Sucede, porém, que não tenho a memória curta.

Alegrei-me com a queda do xá, nos idos de setenta do século passado. Assisti, depois, à ascensão de uma catrefa de salafrários que ainda perduram e que fizeram mergulhar o Irão num obscurantismo medieval sob a bandeira da religião. Senti, como sinto, saudades de um patife chamado Reza Pahlavi.

Tenho como certo que a pusilanimidade é inversamente proporcional aos cabelos brancos. Talvez por esse motivo duvide da bondade de intenções do Ocidente (leia-se americanos e sus compadres) quando diz alegrar-se com a sucessiva queda de regimes às mãos da Primavera Árabe.

Sonha-se, diz-se, com um Mare Nostrum democrático e progressista. Receio bem que o verdadeiro sonho que povoa o imaginário dos donos de Obama se traduza numa pirâmide de barris de petróleo ao preço da chuva.

Da mesma forma que sei que a chuva é tão rara no Magreb e no Mashrek como os laivos democráticos dos seus dirigentes, também não ignoro que os salafrários da Irmandade Muçulmana não vão querer perder a oportunidade para colocarem os seus muftis e ayatollahs no lugar dos ditadores.

Quer isto dizer que tenho alguma coisa contra muftis e ayatollahs? Não, não tenho. Assim como não tenho contra o Papa e os seus cardeais. Tenho, isso sim, uma desconfiança que reputo de legítima quando vejo a religião imiscuir-se nos assuntos de Estado e, muitas vezes, confundir-se com o próprio Estado.

Não gostava de Mubarak, assim como não gosto de ditadores. Mas gosto menos de hordas fanáticas. Como aquela que atacou a Embaixada israelita no Cairo. Foi o primeiro sinal de uma nova (des)ordem. Esperemos pelos próximos capítulos.