sábado, 10 de setembro de 2011

Primavera de incerteza


Hosni Mubarak pode ser catalogado como ditador? Pode. E Ben Ali? Também. E Assad? Idem. E Kadhafi? Sem dúvida. Assim como muitos outros, de Marrocos à Arábia Saudita. É a Primavera Árabe digna de simpatia? Com certeza. Será motivo para, no Ocidente, batermos palmas? Duvido.

Duvido porque estamos a substituir o certo pelo duvidoso. Pessoalmente agradar-me-ia ver cair todos os ditadores, seja de que quadrante for – no Magreb, no Mashrek, na Ásia e na África Negra, com o senhor José Eduardo dos Santos à cabeça. Sucede, porém, que não tenho a memória curta.

Alegrei-me com a queda do xá, nos idos de setenta do século passado. Assisti, depois, à ascensão de uma catrefa de salafrários que ainda perduram e que fizeram mergulhar o Irão num obscurantismo medieval sob a bandeira da religião. Senti, como sinto, saudades de um patife chamado Reza Pahlavi.

Tenho como certo que a pusilanimidade é inversamente proporcional aos cabelos brancos. Talvez por esse motivo duvide da bondade de intenções do Ocidente (leia-se americanos e sus compadres) quando diz alegrar-se com a sucessiva queda de regimes às mãos da Primavera Árabe.

Sonha-se, diz-se, com um Mare Nostrum democrático e progressista. Receio bem que o verdadeiro sonho que povoa o imaginário dos donos de Obama se traduza numa pirâmide de barris de petróleo ao preço da chuva.

Da mesma forma que sei que a chuva é tão rara no Magreb e no Mashrek como os laivos democráticos dos seus dirigentes, também não ignoro que os salafrários da Irmandade Muçulmana não vão querer perder a oportunidade para colocarem os seus muftis e ayatollahs no lugar dos ditadores.

Quer isto dizer que tenho alguma coisa contra muftis e ayatollahs? Não, não tenho. Assim como não tenho contra o Papa e os seus cardeais. Tenho, isso sim, uma desconfiança que reputo de legítima quando vejo a religião imiscuir-se nos assuntos de Estado e, muitas vezes, confundir-se com o próprio Estado.

Não gostava de Mubarak, assim como não gosto de ditadores. Mas gosto menos de hordas fanáticas. Como aquela que atacou a Embaixada israelita no Cairo. Foi o primeiro sinal de uma nova (des)ordem. Esperemos pelos próximos capítulos.

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